Only one.

Mal havia deixado o irmão no quarto com Sawa e fora direto ao próprio. Não estava tão animado, na verdade, as coisas tinham sido bem pesadas durante aquela noite. E, apesar de não ter sido afetado pelas Eríneas, Jake não estava feliz. Haviam pendências relacionadas aos seus sentimentos, coisas que precisava dar um certo fim e não iria esperar até o próximo dia para isso.
Assim, já em seu quarto, Jake tirou de uma caixa que havia guardado há algum tempo uma lanterna dos desejos, daquelas que quando acesas flutuavam no céu até desaparecerem por completo. Ele sempre gostou delas, do simbolismo que ela carregava e porque era bonito vê-las subindo devagar até as estrelas. Junto com a lanterna, o garoto pegou alguns de seus pertences que lhe eram mais valiosos, principalmente desde a partida de Kenneth. A chave do seu cadeado – que não sabia se deveria tê-la guardado, mas que o fez mesmo assim – e o anel que o empusa havia lhe dado.
Com tudo o que queria, Jake rumou em direção ao jardim do Instituto, mesmo com o toque de recolher, não temia que fosse pego, só queria fazer o que tinha em mente logo antes que sua força fosse minada de vez. Precisava se despedir do jeito certo. Ou o que fosse mais certo em sua cabeça.
Chegou finalmente no ponto onde eles normalmente ficavam olhando as estrelas, sentando-se com as pernas cruzadas e tirando os objetos do bolso após deixar a lanterna sobre a grama a sua frente. A cria de Apolo respirou fundo, e com um sorriso no rosto, colocou o anel no dedo e segurou a chave do cadeado na outra mão.
- Oi, meu amor, espero que esteja tudo bem contigo. Bom, acho que não tivemos a despedida que merecíamos. Na verdade, não merecíamos qualquer despedida, mas eu entendo que coisas maiores aconteceram. E, mais ainda, eu sei que por mais que seu coração fosse meu, o seu corpo não me pertencia. Acho que faz parte do meu crescimento entender que as coisas não são como em contos de fadas, e tudo bem. Eu vou superar, eu acho. – Fez uma pausa breve, recuperando o fôlego e tentando não começar a chorar antes de terminar de falar. – Bom, ainda dói pensar que provavelmente você não vai voltar, e me despedaça saber que eu preciso aceitar isso, que mais uma pessoa se foi da minha vida, mas tudo bem.  Eu juro que vou ficar bem. Eu sempre fico, afinal, sou eu, certo? O Jake. – Riu baixo, engolindo mais uma vez o choro que tentava escapar antes da hora. - Saiba que eu não te culpo por isso, jamais culparei, porque mais do que saber, eu sinto que você ficaria comigo se pudesse e que eu ficaria enrugadinho do seu lado pelo resto da minha vida. Kenny, eu sei que você não pode me escutar de fato, mas eu quero que você saiba que você foi a coisa mais perfeita que me aconteceu, que amar você foi imensamente incrível e eu não sei nem mensurar o quão maravilhoso foi e é esse sentimento, obrigado por me proporcionar isso. Obrigado por me amar e me permitir te amar também. Mas, agora, olhando para isso... – abaixou o rosto, olhando para o cadeado e o anel. – Parecem fantasmas no meu quarto, estão me corroendo por dentro, porque elas não são você e eu não quero te prender em objetos no meu armário. Você é bem mais do que isso, meu amor.
Pausou seu monólogo mais uma vez, respirando fundo ao tirar o anel do dedo, onde o prendeu junto a chave com uma fita vermelha na lanterna. Engoliu outra vez o embargo na voz, se levantando do chão e trazendo a lanterna consigo. Por fim, acendeu a base inflamável dela, vendo o fogo tomar conta do círculo inferior, lentamente e sem qualquer pressa, quase como se ele soubesse que Jake precisava de mais um tempo.
- Foi aqui que nosso amor começou, com as estrelas. E são elas que vão o eternizar pelo resto das nossas existências. Eu te amo, Kenny, pelo resto da minha vida eu sempre vou te amar.
Os dedos soltaram a lanterna, que flutuou lentamente em direção ao manto escuro da noite. Subindo cada vez mais, deixando Jake sozinho na terra, se despedindo daquele que foi o amor da sua vida e que seria pelo resto dela.