jake_olp

Fire.

Jul 1st, 2020
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Never
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  1. Não queria contar quantos dias se passaram, ainda que soubesse exatamente, não era porque havia de fato contado. Apenas sabia, porque precisava lembrar de passar um dia após o outro. Era difícil guardar tudo pra si, ainda que tivesse os meninos, que tivesse Aspen, Jake não queria parecer um moleque chorão. Talvez fosse o resquício de orgulho que ainda tinha. Ou que surgiu depois da ida do empusa. Não sabia ao certo, e nem mesmo importava, a cria de Apolo só queria não preocupar os outros.
  2.  
  3. Além de não torrar mais ainda a paciência de ninguém.
  4.  
  5. Naquela noite, Jake abriu seu álbum com seus desenhos. Estava sentado no chão, perto da pequena lareira que havia na área do seu quarto, no tapete em específico. O livro sobre as pernas cruzadas aberto no último desenho que havia feito. O Niko usando o anel de Hades. Jake revirou os olhos em meio a uma risada. Era incrível a estupidez que alguém podia chegar, ou seria a inocência? Bom, fosse o que fosse, tinha causado problema o suficiente pro instituto inteiro.
  6.  
  7. Folheou novamente, exibindo o self portrait que havia feito, estava debruçado em uma varanda e, seguindo as linhas do desenho, estava ventando suavemente. Sua imagem parecia bem calma ali, como se tivesse tranquilo. Desenhar aquilo fora uma pontada de esperança, iria ficar tudo bem no fim das contas, apesar de qualquer coisa. Ia dar tudo certo.
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  9. O peso em seu peito não era só um rompimento de um namoro qualquer, o filho de Apolo nunca tinha provado sentimento como aquele, não podia ser só um namoro. E não era, qualquer um poderia ver. Ainda que tivesse ressentimentos, ainda que tivesse raiva, Jake não queria esquecer tudo como se nada houvesse. Precisava engolir a dor, e precisava passar por ela, porque não era um simples rompimento, ele não esqueceria jamais. E nem queria.
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  11. Só era difícil ver qualquer coisa relacionada a ele no momento e se reservou esse direito de ter um pouco de revolta a respeito das coisas como aconteceram. Não dele, mas do mundo. Era mais fácil colocar a culpa no destino e fingir que tudo estava escrito. Fingir? Existe um deus do destino. Fingir não parecia ser a palavra certa.
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  13. Suspirou pesadamente ainda observando os próprios trabalhos. Todos tinham traços diferentes, Jake tinha esse poder, desenhava exatamente o que lhe vinha à mente e as visões nunca vinham da mesma forma, por isso cada desenho era tão único, tão próprio. Não tinha coragem nem de assiná-los, parecia um trabalho do próprio oráculo através de suas mãos. E o filho do Sol adorava aquela sensação.
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  15. Ousou até sorrir minimamente com o pensamento, mas logo seu sorriso se desfez ao dar de cara com o retrato que havia feito de Kenny antes mesmo de conhecê-lo. Seu futuro. Kenneth era seu futuro até certo ponto e depois sumiria, mas Jake não soube disso.
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  17. Se por ventura ele soubesse, se entregaria tanto? Provavelmente sim. Cada partezinha de si. Não se arrependia de nada.
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  19. Mas ali, Jake sentiu o coração se enchendo de rancor e raiva, seu peito doía de uma forma indescritível. Era somente um desenho, mas ainda era ele. Tinha o mesmo brilho nos olhos, os mesmos traços graciosos. Era ele. Tão perto e tão longe. Hyun perdeu o próprio controle ao arrancar a folha do espiral. Os olhos marejados demonstravam seu desespero e ele estava de fato transtornado pela forma e pela força que aquilo havia lhe atingido, quase como um soco.
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  21. Levantou com o desenho na mão, segurava forte, mas ainda não havia o rasgado. Faria ‘melhor’. Procurou com certa urgência a caixa de fósforos que serviam para acender a pequena lareira, a acendendo logo em seguida, esperando que tivesse chamas o suficiente para queimar de vez aquele desenho. Não conseguia mais olhar para ele daquela forma, Jake não queria sentir aquilo de novo, infelizmente, pois tudo o que o garoto fazia era sentir. Dor ou paixão, ele era um enorme poço de sentimentos.
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  23. Tinha a testa franzida e a expressão impaciente, mas logo o fogo cresceu e sem qualquer hesitação, Jake jogou o desenho nas chamas. Haviam lágrimas no rosto, seu peito subia e descia tão pesadamente e tão rápido que era evidente seu desespero, que nem mesmo ele sabia explicar de onde vinha.
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  25. O fogo começou a consumir as bordas do papel colorido, suas íris não se desviaram em nenhum momento dele, e tinha o olhar duro que nunca teve antes. Estava transtornado e Jake só havia ficado daquela forma quando a mãe morreu. Nayeon veio a sua mente naquele mesmo instante, como se a memória tivesse consciência, onde o sorriso materno inundou seus pensamentos, o desarmando completamente.
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  27. Não era aquele o seu menino, ela não havia o criado para ter aqueles sentimentos, Jake era um doce e ela era a responsável. Se orgulhava muito do garotinho sensível que havia criado e com certeza não estaria nada feliz com aquela cena onde quer que estivesse.
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  29. Fora assim que o filho de Apolo se ajoelhou com pressa em frente a lareira e, sem qualquer hesitação, ou qualquer cuidado, enfiou a mão em meio às brasas pegando o resto de papel queimado de lá. Não sentiu na hora, só queria salvar a única coisa que havia sobrado de Kenny, mas as queimaduras não haviam sido pequenas, ao menos ele havia conseguido resgatar o retrato parcialmente queimado pelo fogo.
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  31. "Me desculpa, Kenny… eu não quis fazer isso. Eu não tenho raiva de você."
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  33. O choro antes entalado agora se fez presente, copioso e sentido. Jake segurava o papel queimado junto ao peito desistindo de lutar contra a sua tristeza. Precisaria senti-la, fazia parte do processo, precisava tirar o peso do peito e precisava aceitar que a tristeza era necessária.
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  35. Mesmo para ele.
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