Bye, bro.

Aspen, eu não sei bem como começar essa carta, na verdade eu não sei bem como começar qualquer coisa, mas vamos relevar esse detalhe. Deve ter percebido que fiquei meio fora durante essa semana, ou nem percebeu e eu me sinto a estrelinha dourada do natal… Nah, percebeu sim que eu te conheço. De qualquer forma, preciso explicar o que aconteceu e o que vai acontecer a partir de agora.

Mas, primeiro, preciso fazer a famigerada volta ao passado para tocar o seu coração mole e você me dar mais razão no que eu fiz. Então, dito isso, vamos voltar quando éramos crianças.

Eu sei que brigávamos muito, que mamãe e o tio viviam em pé de guerra por nossa culpa também, acho que é mal de irmãos. Irmãos brigam, mas se amam incondicionalmente. Ainda que não saibam ainda que sejam irmãos…

Eu não vou dizer que tinha inveja de você, mas, Aspen, eu sempre quis ser como você. Inteligente, o orgulho da família, quem o vovô sempre perguntava sobre e elogiava pelos feitos cada vez mais significativos. E eu? Bom, eu era o Jake. O que não falava coreano, o que frequentava uma escola mediana e que não trazia medalhas de honra pra casa. Eu só tinha a mamãe, e ela só tinha a mim. Foi assim por um grande período. Mas eu não tinha raiva de você. Você era o meu herói, o meu Shazam, eu acho.

E aí nós crescemos, você virou médico e eu? Bem, um simples fotógrafo. Mas eu não estava triste, eu realmente amo o que eu faço e é o que me deixa feliz, entende? Capturar momentos que podem ser guardados num pedaço de papel tão simples, mas que é tão verdadeiro. Você salva vidas e eu memórias. Percebe como somos diferentes? Eu amo isso.

Eu lembro quando a mãe contou pra família que você era filho dela, eu queria ter fotografado a cara de cada um com a notícia, mas só tenho isso guardado na minha cabeça. O vovô chocado, o tio Demian com cara de quem queria matar a mamãe, o tio Chae com cara de quem vomitaria… talvez você nem se lembre de mim nessa cena, até porque logo seu pai veio te buscar, mas eu acabei rindo. Primeiro por descrença e depois porque o primo que eu sempre admirei era o meu irmão. O meu irmãozão! Eu fiquei feliz, muito feliz. Mas eu não conseguia me aproximar de você depois disso, as coisas entre nós nunca foram as mesmas, acho que você deveria ter raiva da mamãe por ter escondido e talvez raiva de mim por ter ficado com ela.

Foi depois disso que ela começou a adoecer mais. Todos os meses precisava ir ao médico por uma coisa ou outra. Acho que ela sentia sua falta, ou a falta do que havia perdido. Ou os dois. Mamãe sempre te amou mesmo de longe, acho que o amor dela por ti respingou em mim, bro.

Quando meu pai veio me buscar, eu não queria ir. Não podia deixar ela sozinha, e não queria abandonar ela por nada, mas ela insistiu tanto e me disse que eu precisava ficar com você que eu acabei aceitando. Quando eu cheguei, achei que você ia me matar, sabe? Você é médico, né? Se tem alguém que sabe matar outra pessoa e fingir ser acidente é um médico. Só que, pra minha surpresa, você acabou se tornando o melhor irmão do mundo.

Aspen, eu amei cada segundo que passei com você no Instituto, cada brincadeira idiota que eu fiz, cada bronca sua. Tudo. Exatamente tudo. Você segurou a mão da mamãe quando ela morreu e você aguentou isso por mim quando eu claramente não aguentaria. Você foi forte e é forte por nós dois. A melhor pessoa que eu já tive o prazer de conhecer, o melhor irmão que eu poderia pedir. Eu te amo tanto que não cabe em mim. E eu vou te amar até o meu último suspiro e até depois da minha morte já que aparentemente existe mesmo vida após a morte.

Ainda bem que você não pode ver a minha cara agora, eu tô admitindo que tô horrível chorando. Terrível.

Eu aprendi e aproveitei o amor do meu irmão no instituto, mas vai chegar uma hora que você não vai mais poder ficar do meu lado, porque você tem a sua vida e precisa seguir o seu coração. Da mesma forma que eu estou seguindo o meu.

Agora chegamos nas motivações desse rodeio todo.

Eu fui para Seul semana passada. Me deu saudades do Kenny e eu queria ver os nossos cadeados naquela torre. Quando eu finalmente encontrei, eu percebi que ele tinha passado por lá antes de mim. Tinha um bilhete no cadeado, nem me pergunte como o bilhete não estragou, apenas soube que era dele porque estava escrito em grego. E eu reconheceria a caligrafia dele entre mil outras.

Tinha uma pista no bilhete que me levou a outro bilhete e depois outro e assim por diante. Ele fez eu seguir um caça ao tesouro, acredita? Eu nem sei como eu consegui fazer tudo sozinho, Aspen. É realmente louvável. Mereço os parabéns.

No "X" do mapa, o local onde o tesouro fica, eu encontrei ele. O amor da minha vida. Você pode achar que eu sou doido por ter feito isso, pode me odiar por ter ido atrás dele, mas você, mais do que ninguém, sabe o quanto eu o amo. Acho que você sente o mesmo pelo Gael, não?

O que eu quero dizer é que eu tenho tanta coisa pra viver ainda, coisas que eu não vivi por ter ficado colado da mãe a vida inteira. Coisas que eu preciso descobrir a respeito das minhas habilidades e do que Apolo me deu. E eu quero fazer isso do lado do Kenny. Não me entenda mal, eu só não quero perder a chance de ter a minha família.

Não se preocupe, ok? Eu ainda vou ver você, e te incomodar no seu aniversário, nas festas de família e com certeza eu vou estar lá quando você tiver a Elis e todo o time de futebol que você quiser me dar de sobrinhos. E eu sempre vou ser o seu irmão.

Ah, e se despede do Sawa pra mim, por favor. Eu sinto muito não ter conseguido me despedir antes, mas eu precisava ir logo. Diz pra ele que eu o amo e que ele foi o meu melhor amigo da vida inteira. E eu também vou incomodar ele nas mensagens de Íris. Amo vocês, Cavaleiros. Pra sempre.

Saranghae, hyung.

Com amor, Kang Hyun.